Ler e escrever na pandemia

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Ler e escrever na pandemia

Nesses últimos dias estou mergulhado num trabalho de campo, estou juntamente com amigos e parceiros de trabalho juntando hábitos dos leitores, fazendo entrevistas com leitores que conhecemos e com leitores que desconhecemos. A nossa missão é de aprender com o leitor, perceber seus hábitos e a partir dessas experiências, desses olhares, entendermos um pouco mais do nosso meio, nosso mercado editorial.

Uma das revelações dentre tantas é a de que com a pandemia e a necessidade de se ficar mais tempo em casa a vontade de se tornar leitor aumentou, simplesmente por conta do tempo em casa, sabemos que o consumo de streaming também cresceu, mas é notável o livro ser lembrado em meio a outras modalidades de lazer mais digitais.

E se aparecem novos leitores, ou leitores retomando o hábito, aparecem novos autores, escritores que se alimentam do tempo e do difícil tema do isolamento para a partir do uso dele, tempo, fazer nascer uma obra que pretenderá ser um livro.

Em outros tempos o cárcere gerou muitas obras, Gramsci com seus Cadernos do Cárcere, Napoleão com o Memorial de Santa Helena e Graciliano Ramos com Diários do Cárcere são alguns que me ocorrem assim, de bate pronto.

Neste último ano nasceram muitas obras, tantas foram as obras que a editora Todavia, nova editora muito boa no que faz, criou uma coleção dentro dessa ótica comum, livros que nascem da experiência angustiante do isolamento.

Autores de áreas diferentes como Guga Chacra, Zeca Camargo e Maria Homem se dedicaram a produzir obras breves e datadas, daí a relevância, são extratos das nossas vidas, experiências e duro aprendizado nesta etapa da nossa existência.

Uma das diferenças das obras temporalmente anteriores a estas novas que nasceram no último ano é a natureza do isolamento, nas obras de outros tempos os autores estavam encarcerados pela lei dos homens, cumprindo penalidades, neste último ano fomos levados ao isolamento por uma crise sanitária mundial, e devo mencionar que ficar em isolamento mesmo sendo difícil por termos de natureza econômica é vital para proteção, pro vírus não circular tão fortemente.

Espero que consigamos superar esse período de dor e perda, e espero que se leia cada vez mais, independente de estarmos encarcerados, espero que leiamos por prazer, por vontade de adquirir conhecimento, vontade de evoluirmos.

Tenho fé que iremos nesse caminho.

Obrigado pela preferência, voltem sempre.