Or ricos e os livros

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Or ricos e os livros

O irlandês Jonathan Swift é mais lembrado pelo universal “Viagens de Gulliver” um clássico com muitas possibilidades de leitura, o leitor adolescente se diverte com as cenas do gigante, das viagens do personagem e suas desventuras. O leitor adulto percebe a crítica social, o amargo das entrelinhas. Mas quero provocar com outro texto menos conhecido do próprio autor, no século XVIII Swift produziu uma série de textos intitulados “Panfletos Satíricos” e dentro deles um chamado “Uma Modesta proposta”, neste breve livro a modesta do título sacode com os leitores, Swift sugere resolver o problema da fome na Irlanda da seguinte maneira: os pais comem a sua prole, melhor ainda se forem bebês de até um ano, quando a carne é tenra, macia. O problema da fome está resolvido.

O texto chocou o país, o autor, claro, propõe uma leitura da realidade pelo avesso, pela sátira feroz.

Faço uma conexão desta leitura pelo avesso, essa leitura do mundo pensando nas mentes iluminadas do pessoal da Receita Federal que pretende taxar os livros com o argumento de que quem compra livros são os ricos,ora ora, leitores, isso é ler o mundo pelo avesso.

Na cadeia de consumo claro que os mais privilegiados podem ser os que mais consomem em todos os segmentos de produtos, e quanto mais caro e visual o produto melhor, menos crise, menos diminuição de vendas.

O livro é consumido por todos, claro que  numa crise sem precedentes se você precisar optar entre comer e ler não há o que se pensar, mas o livro não é um produto de ricos. Os meus principais clientes, digo em quantidade, em proximidade estão em duas categorias ou segmentos principais, são os alunos e os professores e não, não vendo livros didáticos essencialmente, vendo para eles livros não obrigatórios, vendo literatura, história, filosofia, HQs e o que mais der na veneta. Lembro de um cliente muito rico que atendia na antiga Livraria Iporanga, ele era um (ainda é!) advogado, quando me visitava simplesmente dizia para que eu selecionasse livros do seu gosto, e eu fazia isso com rapidez, em uma das vezes ele se despediu com suas sacolas contendo uns 10 livros e entrou no cinema Iporanga, quando acabou o filme ele saiu da sala e se deu conta que havia esquecido as sacolas lá dentro, não teve dúvida, voltou à livraria com cara de cansado e pediu para que eu pegasse os mesmos livros que ele iria comprar novamente ali na hora.  

Quando um Governo pensa do avesso e quer criar uma taxação sobre o livro e ao mesmo tempo diminui a taxação sobre armas o que nos veem à cabeça? O conhecimento e a cultura ficam mais inacessíveis e as armas mais acessíveis, livros longe, armas perto.

Quero como livreiro a proximidade do leitor e distância do atirador.

No meu mundo ideal os Professores seriam os Ricos, imaginem viver nesse mundo? Uma proposta nada modesta.

Obrigado pela preferência, voltem sempre!