Mais uma despedida, mais um amigo

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Mais uma despedida, mais um amigo

Dos textos que não escolhemos se vamos escrever porque eles se impõe sobre os outros assuntos, é dessa forma que vou dividir com vocês mais uma perda, desculpem o clima, mas não escolhi como expliquei há pouco.

O Marcus Vinicius Batista, o Marcão, jornalista, professor e recentemente psicólogo, partiu, faleceu repentinamente aos 46 anos na semana passada, vítima da combinação fatal da diabetes com o Covid e assim,virou estatística de mais um número dentro da tragédia dos mais de 540 mil mortos no país.

Eu preciso relembrar o início da nossa amizade, quando no canal 6, quase que diariamente, eu com uns 16 anos, ele com 13, fazíamos parte de uma molecada que jogava bola nos finais de tarde, ele vinha com uma turma de vizinhos da rua Roberto Sandall, eu já jogava e formava com quem chegasse, sem escolher, sem solenidades, era assim na praia no anos oitenta, fincávamos as havaianas na areia e jogávamos bola, ou fazíamos o gol caixote com canos de PVC ou, raramente e só anos depois tínhamos estrutura pra montar campo e gol grande com goleiro, o comum era o gol caixote.

O Marcão era goleiro das divisões de base da Portuguesa Santista e depois jogou no Santos, e na praia ele jogava à paisana na linha, todos éramos magrinhos à época.

Quando ele foi cursar jornalismo e optou por se afastar da profissão de goleiro torci por ele, e ele foi com garra buscar espaço nesse mercado de trabalho, e com garra ele foi se adaptando, migrando do jornalismo televisivo pro impresso, com garra foi ser professor em Universidades, depois um cronista dos mil assuntos do cotidiano, do futebol e das relações humanas.

Adorava jogar com ele, nesses trinta e poucos anos de convívio fomos mudando o piso dos campos,começamos na areia, jogamos algumas vezes na grama em edições da Tarrafa Literária quando reunia amigos e escritores pra uma pelada e mais tarde acabamos no mundo gourmetizado dos grêmios em grama sintética, adorava jogar com ele, mas eu gostava ainda mais de jogar contra ele. Nos provocávamos, sempre. E sempre aparecia um pênalti no jogo, e sempre eu escolhia bater e sempre o Marcão gritava, Zeca (só ele me chamava de Zeca), vem bater, ele batendo as luvas e me desafiando, fazendo catimba.

Fomos parceiros nos eventos, o Marcão mediou os primeiros encontros que organizei ainda quando estava debaixo dos cinemas, ficávamos eu, ele e o convidado proseando, seu preparo acadêmico me dava confiança e fizemos algumas vezes a tabelinha. Mais adiante fui seu editor e sinto que motivei o Marcão a seguir também nesse caminho, mais adiante ele juntamente com a sua companheira criaram uma editora, o Ateliê de Palavras.

Nos últimos anos nos afastamos, não sei ao certo o motivo, também nunca saberei e não pretendo buscar por respostas, lamento não ter podido conversar mais com ele, lamento não ter tomado iniciativa em buscar uma reaproximação, lamento.

Nos pênaltis cobrados tive mais sucesso do que fracasso, sabia que fazer um gol no Marcão não era fácil, ele era craque, vendia caro sempre.

Lamento muito, Marcão, não quero mais bater pênaltis, nunca mais.

Obrigado pela preferência, voltem sempre.